Nascer nos anos 40 e 50 foi barra.
Uma geração foi feita para romper com a anterior, mas essa chegou ao mundo para mudar todos os conceitos de várias gerações.
Faz apenas 50 anos que apareceu a televisão, o chuveiro elétrico, a declaração dos direitos humanos e a revista Playboy.
Casar era pra sempre, sustentar filhos era até quando eles conseguissem emprego, as certezas duravam a vida toda e os homens eram os primeiros a serem servidos na sala de jantar.
As avós eram umas velhinhas e hoje uma mulher de 40 ou 50 anos é um "mulherão". Todos nos vestimos como nossos filhos.
Não existem mais velhos como antigamente. Essa foi uma geração que mudou tudo.
Culpa da pílula, dos Beatles, da Internet, da globalização, do muro de Berlim, da televisão, da Tecnologia, do Viagra.
Até morrer ficou diferente. Na minha rua havia um velhinho que morria aos poucos. Ficou uns dez anos morrendo e isto aconteceu logo depois de completar 57 anos. Hoje se morre com 80 ou aos 90 e é um vapt-vupt.
Com a pílula, a mulher teve os filhos que quis e ela sempre quis poucos. Como não conseguimos mais sustentar uma família, elas foram à luta e saíram para poder pagar a comida congelada, a luz e o telefone.
Se a coisa não vai bem: é fácil a separação, difícil é pagar a pensão.
Hoje aprendemos a ouvir as crianças falando sobre namorado da mãe e o pai do irmão e temos apenas 15 minutos para ficar com a certeza de que tudo isso é normal e saudável.
As pessoas que têm mais de 50 anos têm 15 minutos para dar uma opinião sobre o clima da terra, o aquecimento global, os transgênicos, as mortes das baleias, a guerra da Chechênia, o orgasmo múltiplo, a venda e a falta de empregos, os muçulmanos, a reforma agrária. Sem esquecer de ser politicamente correto, é claro.
Em 50 anos tiraram a filosofia da educação básica e como o pensamento era reprimido pela revolução, tudo virou libertação. Pedagogia da libertação, teologia da libertação, psicologia da libertação. Deu no que deu. Burrice liberada. Burrice eleita.
As pessoas de mais de 50 anos aprenderam à tapa e na rapidez a assimilar todas as mudanças do mundo. Os filhos, por falta de emprego, não têm mais anseios de ir embora. Ficam morando eternamente e mandando na casa e com os controles remoto da TV, do DVD, do ar-condicionado na mão. Afinal, quem detém o poder do controle remoto manda na casa. São eles.
Um amigo lá na casa dos 50 contou que o pai sentava-se à mesa e a mãe servia o prato. Quando era galinha, ela vinha inteira. O pai gostava de sobre-coxa. Pronto, as duas eram para ele. Meu amigo também adorava sobre-coxa, mas pensava que quando se casasse sentar-se-ia à mesa e receberia a maravilha de ser agraciado com o fruto de seu desejo. Aí, a libertação aconteceu e os filhos passaram a se servir primeiro. O desgraçado do filho mais velho deu para gostar da sobre-coxa. Ele contava que apenas quatro vezes na vida conseguiu comer o que mais gostava. E nem dar um tapa no filho pode. Pode ficar traumatizado.
As pessoas de mais de 50 anos sabiam de cor a escalação do Corinthians no tempo do Geraldo, Zé Maria, Romeu, Basílio, Vaguinho, Palhinha, Wladimir e Tobias. Hoje aprenderam a escalação do Botafogo de Ribeirão Preto, que tinha no ataque Polleto, Buratti, Barquete e Palloci. E como esses caras roubavam no jogo!
Para as pessoas de mais de 50 anos, palhaço era o Arrelia da TV Record. Hoje o povo inteiro é meio palhaço, meio pateta. Ladrão era o Meneghetti e o Bandido da Luz Vermelha; hoje os ladrões tomaram conta dos palácios, da Câmara Federal e de uma cidade que não existia, chamada Brasília. Ângela Guadagnin dançaria só na zona do baixo meretrício. Naqueles tempos, frango jamais ficava gripado, no Rio Grande do Sul.
Presidente da República era alfabetizado.
Experiência com feijão e algodão germinando a gente fazia na escola primária e não em vôo espacial, pago a 12 milhões de dólares.
Movimento social era reunião dançante, dia da mentira não era data nacional, piercing quem usava era índio botocudo, mansão do lago era algo de filme de terror e não lugar onde se divide dinheiro.
O homem chegava a lua e descobria que a Terra era azul, hoje um brasileiro se emocionou ao ver o Brasil lá do alto: é marrom e fede; caseiro não era mais ético do que ministro; quadrilha era dança junina e não razão de existir de partido político; operário era padrão e não rimava com ladrão.
Ninguém tinha um esqueleto no armário nem dava tiro no pé. Manteiga era usada pelo Marlon Brando no Último Tango em Paris. Pizza se comia em casa e era mais alta, com bastante molho de tomate e muito queijo; hoje entregam uma a toda semana no Congresso do Planalto.
O Clube dos Cafajestes eram uns inofensivos playboys cariocas e não um País.
As pessoas de mais de 50 anos estão assim meio tontas, mas vão levando.
Fumaram e deixaram de fumar, beberam um whisky com muito gelo, hoje tomam água mineral, foram marxistas até descobrir quem foram os irmãos Marx (Harpo, Chico e Groucho) e que o marxismo é um grande engodo. Não têm mais certeza de mais nada e a única música do Beatles a tocar é "Help".
Pára Brasil, que os caras de mais de 50 anos querem descer!!!!
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
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Um comentário:
Que texto excelente! Bom ler coisas assim, perceber que não estamos sozinhos neste "barco" e já que ele está quase afundando, que temos outras vozes para gritar por socorro junto com nós.
Patrícia
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